A Contabilidade tem experimentado nos últimos séculos uma revolução de sua história, visto que recentes trabalhos arqueológicos encontraram vestígios da utilização de sistemas contábeis na pré-história, durante o período Mesolítico.
Os números como hoje utilizamos foram difundidos depois do século 7, os famosos indo-arábicos. Antes disso, os números passaram por transformações, primeiro pela babilônia e depois pelos romanos. Mas, até antes dos primeiros números difundidos, ainda havia a necessidade de controlar nossas produções.
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Principalmente nas áreas mais férteis, como a antiga Pérsia e a Mesopotâmia, criou-se uma necessidade até então pouco considerada: o controle do produto da agricultura e da criação de animais. Era necessário um sistema para o registro da localização dessas mercadorias, seus proprietários, possíveis dívidas originadas com suas transferências e também os direitos dos antigos proprietários. Todas essas novas situações deveriam ser identificadas e registradas pelos homens pré-históricos, mas como poderia ser possível se ainda não existiam a escrita e a contagem em sentido abstrato?
Em sítios arqueológicos em Israel, Síria, lraque.„ Turquia e Irã foram encontrados pequenos artefatos de barro, chamados de fichas, datados de 8000 a 3000 a.C. Escavações também revelaram a existência de outros artefatos de barro assemelhados a caixas com fichas em seu interior e impressões externas, um costume sumeriano para identificar devedores ou outras pessoas. Datavam os mais antigos de aproximadamente 3250 a.C., e eram denominados de envelopes.
As fichas de barro foram classificadas em duas categorias: fichas simples e complexas. As simples possuíam a forma de esferas, discos, cilindros, ovoides, triângulos, retângulos e revelam traços de 8000 a.C., e eram usad as principalmente em zonas rurais; as complexas, também com grande variedade de formas, porém com incisões ou pontuações e frequentemente perfuradas, eram usadas em muitas cidades e nos arredores dos templos. Esses pequenos objetos de barro espalhados por várias partes na Terra eram moldados a mão e endurecidos com calor, medindo de 1 a 4 centímetros. Em sítios arqueológicos de Jarmo, Iraque, foram encontradas mais de 1.500 fichas datadas de 6500 a.C.
As escavações revelaram que as 49 fichas perfuradas encontradas representavam a garantia de que o pastor havia recebido o rebanho e possuía urna dívida com o proprietário. Cada animal do rebanho era representado por uma ficha mantida em um receptáculo. Sempre que algum animal era transferido para um pastor, ou para outra pastagem, ou mesmo para tosquia, a forma de registro do evento era a transferência da ficha correspondente ao animal. para outra caixa, registrando essa ocorrência.
As primeiras fases da contabilidade na história
As fichas contábeis foram as antecessoras e propulsoras da escrita e da contagem no sentido abstrato. Historicamente, a contagem envolveu três fases evolutivas: o início caracterizado pelo chamado correspondente um-por-um, passando para a contagem concreta, especialmente por meio de fichas, e chegando à contagem abstrata, pelos números.
A primeira fase envolvia a combinação de um sinal (por exemplo: um Osso, uma concha do mar) com urna mercadoria (um carneiro, uma medida de grão, um coco), repetindo-se o sinal para cada unidade adicional do produto.
A segunda fase, a contagem concreta, caracterizava-se pelo relacionamento de fichas concretas (ou outros objetos similares) com palavras que representavam números específicos. Algumas expressões, como uma dupla, uma braça, um par, indicavam o número dois, mas não necessariamente poderiam ser usadas em todas as situações. Na contagem concreta identificava-se um conjunto de palavras ou fichas com um conjunto de coisas específicas. A noção de cardinalidade (medida de grandeza sem referência à ordem de sucessão) foi introduzida nessa fase. Essa contagem estava limitada a um escore de objetos.
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A última fase da evolução da contagem caracterizou-se pelo desenvolvimento dos símbolos numéricos, liberando a contagem de um conjunto específico de coisas, criando números gerais suficientes para a contagem de qualquer coisa e a noção abstrata de um, dois, três etc
Usando fichas de barro e o sistema de partidas dobradas
As transações comerciais eram representadas por transferências de fichas de barro, refletindo a entrada ou saída física de ativos. Por exemplo, a transferência de um carneiro de um pastor para outro representava a transferência de uma ficha de barro de um envelope para outro.
Portanto, a entrada de uma ficha (representando um carneiro) dentro de um envelope (esse envelope representava um pastor "X" ou um curral) correspondia por exemplo a um crédito na conta carneiro, contra um débito na conta pastor "X".
Assim, já era aplicado desde o início um método de partidas dobradas. Esse método consiste em considerar que para todo e qualquer item que ingressa no patrimônio, há um lugar de onde ele é proveniente.
Ou seja, não há geração espontânea de patrimônio, mas sim uma origem para todo elemento que se aplica no patrimônio, passando a integrá-lo.
Em outras palavras, para todo débito, existirá SEMPRE um ou mais créditos correspondentes.
Exemplo: Imagine uma mercadoria com custo de R$ 400,00 e foi revendida por R$ 600,00 à vista. Veja quais são os lançamentos a serem efetuados:
Conta Caixa (Ativo): Débito de R$ 600,00 – entrada de numerários;
Conta Receita: Crédito de R$ 600,00 – registro de faturamento;
Conta Despesa: Débito de R$ 400,00 – valor do produto revendido;
Conta Estoque (Ativo): Crédito de R$ 400,00 – baixa de estoque no valor de custo do ativo.
Viu só que, no final das contas, o total de débito é sempre igual ao somatório dos créditos?
Avançando na história
Com o ressurgimento da atividade econômica, renasce, também, a importância da Contabilidade. Para Melis (1950), o século XIII foi o período que marcou o fim da era da Contabilidade Antiga e o início da era da Contabilidade Moderna.
O surgimento do comércio em grandes quantidades desencadeou a necessidade de controle patrimonial. A Contabilidade despontou como o instrumento capaz de fornecer as informações necessárias para o gerenciamento dos negócios.
Como os mercados consumidores cresceram e transcenderam os muros das cidades, principalmente as cidades marítimas, como Veneza, no mar Adriático, e Gênova, no Tirreno, tanto comerciantes como consumidores necessitavam de controle
de suas mercadorias e de seus negócios. O fluxo de dinheiro envolvido nessas transações aos poucos foi tomando vulto, surgindo, então, a necessidade de controle de entradas e saídas de caixa. A Contabilidade, naturalmente, foi criando sistemas para controle de toda essa movimentação patrimonial. Começaram a surgir as primeiras grandes obras que deram um passo decisivo para a fixação
da Contabilidade como instrumento útil no controle patrimonial.
Pesquisas sobre a origem das técnicas de escrituração contábil transportam para o período entre os séculos XII e XIII, no norte da Itália, as primeiras manifestações práticas do uso do sistema de partidas dobradas em empresas. Após essas primeiras práticas contábeis é que seu uso generalizou-se por toda a Europa.
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A data precisa em que foram introduzidos os primeiros sistemas contábeis utilizando partidas dobradas não é conhecida, mas uma das primeiras manifestações de uso empresarial foi por volta de 1340, na cidade de Gênova. Esse primeiro sistema de partidas dobradas foi, desenvolvido por um funcionário público que ficou responsável pela tesouraria da cidade de Gênova, por um período de um ano. No final desse período, ele já possuía todo o controle do caixa e de outros itens para prestar contas à comunidade. Esse cicio contábil de um ano e o balanço das contas apresentadas por esse funcionário público criaram uma necessidade fundamental de responsabilidade e controle sobre os negócios públicos.
Os primeiros livros sobre contabilidade
Em 1457, foi publicado em Mainz o primeiro livro impresso pelo ex-sócio de Gutenberg, joharin Fust, e em 1494 foi publicado o primeiro livro que apresenta o sistema de partidas dobradas.
A preocupação dos primeiros autores estava em descrever e apresentar exemplos de como registrar transações em livros contábeis por meio de partidas simples ou dobradas. A Contabilidade, para eles, deveria preocupar-se especialmente com o processo de escrituração e com as técnicas de registro por meio dos sistemas de contas.
Para esses pensadores contábeis, o processo de escrituração contábil deve estar subordinado ao funcionamento das contas. O objetivo das contas é sempre o de registrar urna dívida a receber ou a pagar, ou seja, o processo central de registro do haver e do dever Essa preocupação com o registro das contas a receber e a pagar coincide com a origem do crédito nas relações comerciais, pois para a mesma pessoa existem duas situações distintas em relação ao crédito: ou está devendo ou tem a haver. Esse pensamento predominante dos estudiosos da época caracteriza a chamada Escola Contista.
Assim, de acordo com os contistas, todas as contas deveriam ser abertas em nome das pessoas que transacionavam com a empresa. Portanto, quem recebe um ativo da empresa para administrar, por exemplo, o caixa deve esse montante à empresa, por isso urna conta devedora, pois a pessoa deve para a empresa. Por outro lado, quem entrega algo à empresa, por exemplo, um fornecedor de bens, tem em haver em relação a ela, ou seja, tem um crédito.
Essa personificação característica do contismo explica por que o ativo é devedor, bem como por que o passivo é credor. A Contabilidade, nessa época, traduzia as transações das pessoas que negociavam com a empresa, diferentemente do que ocorre hoje, quando o foco é traduzir a Contabilidade da empresa em relação a seus agentes.
Frei Luca Pacioli publica o Registro Contábil de Partidas Dobradas
O primeiro modelo impresso de partidas dobradas foi apresentado pelo frei Luca Pacioli, considerado um grande matemático do século XV e universalmente conhecido por ter incluído em sua obra Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita, onde está inserido o método de registro contábil de Partidas Dobradas,
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conhecido, na época, como o método de Veneza.
Pacioli justificou a inclusão de seu tratado na Summa dizendo que decidiu incluí-lo por achar grandemente necessário ao mercado, que deve saber registrar corretamente suas contas, a partida de crédito e de débito e seus correspondentes, e também determinar os lucros e perdas de todo negócio. Para Pacioli, o comerciante deveria ser um bom conhecedor de registros contábeis e deveria, a qualquer momento, ter noção exata de suas transações.
Com o início da revolução industrial em 1760, houve uma proliferação de empresas e a necessidade de sistemas de contabilidade mais avançados. O desenvolvimento das corporações também criou grupos maiores de investidores e estruturas de propriedade mais complexas, todas exigindo a adaptação dos sistemas contábeis.
O primeiro contador
A profissão moderna também tem suas raízes na Escócia em meados de 1800, quando o Instituto de Contadores de Glasgow solicitou à Rainha Vitória uma Carta Real, para que os contadores pudessem se distinguir dos advogados, já que por muito tempo os contadores pertenceram a associações de advogados que ofereceria contabilidade além dos serviços jurídicos de uma empresa. Em 1854, o instituto adotou o "contador credenciado" para seus membros, um termo e uma demarcação que ainda hoje tem peso legal em todo o mundo.
A petição foi assinada por 49 contadores de Glasgow e argumentou que a profissão contábil existe há muito tempo na Escócia como uma profissão distinta de grande respeitabilidade e que o pequeno número de praticantes está aumentando rapidamente. A petição destacou ainda as diversas habilidades exigidas para ser um contador profissional – além das habilidades matemáticas, um contador precisa estar familiarizado com os princípios jurídicos gerais, já que muitas vezes eles são empregados pelos tribunais para depor sobre questões financeiras – como eles ainda são hoje.
Mercado de ações
Com empresas cada vez mais entrando em mercado de ações, viu-se a necessidade de padronização de suas contabilidades. Cada mercado terá seu padrão e a empresa aberta é obrigada a oferecer informações a todos de sua contabilidade.
Compreender a classificação de uma empresa de seus ativos, passivos e métodos de avaliação na contabilidade financeira é fundamental na análise de investimento e crédito. Portanto, equipamentos obsoletos com valor contábil positivo podem não valer nada se a empresa tentar vendê-los. Além disso, o valor de uma determinada classe de ativos é baseado no julgamento da administração e pode não refletir seu verdadeiro valor econômico. Os investidores e contadores que têm um forte conhecimento de contabilidade empresarial podem estar à frente da curva identificando tais problemas desde o início.
Importância da ética e o aumento das regulamentações
Nem tudo foi fácil para a profissão de contador. O século 21 viu algumas ações duvidosas de contadores causando escândalos em grande escala. Os escândalos da Enron em 2001 abalaram o setor de contabilidade, por exemplo. A Arthur Andersen, uma das maiores empresas de contabilidade do mundo na época, faliu. Posteriormente, sob a recém-introduzida Lei Sarbanes-Oxley, os contadores agora enfrentam restrições mais severas em seus compromissos de consultoria. No entanto, ironicamente, desde a Enron e a crise financeira de 2008, os contadores têm sido muito procurados, pois as regulamentações corporativas aumentaram e mais experiência é necessária para atender aos requisitos de relatórios.
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Por que aprendemos contabilidade?
Agora que você já viu o que é Contabilidade, precisa entender que se trata de um setor estratégico de uma empresa. Isso porque atua diretamente na gestão financeira, fiscal e patrimonial das organizações.
É função da Contabilidade analisar números e planilhas para evitar despesas e também para garantir que o negócio siga tanto as legislações tributárias quanto aquelas específicas do seu ramo de atividade.
Quem decide seguir essa carreira pode trabalhar com:
- área fiscal — o profissional direciona suas atividades para os encargos e para tributos;
- departamento pessoal — é o setor responsável pela folha de pagamento, além de cuidar dos trâmites burocráticos relativos à admissão e à demissão de colaboradores;
- controladoria — analisa os dados sobre o desempenho de um negócio, trabalhando com o planejamento estratégico e subsidiando a tomada de decisão de gestores;
- auditoria — é uma função voltada ao monitoramento e controle externo do setor financeiro de uma organização, apontando erros e até fraudes;
- perícia — é a área da Contabilidade em que o profissional faz um parecer sobre aspectos contábeis a pedido do juiz ou de uma das partes de um processo judicial.
Contabilidade para um administrador
Este curso não é uma faculdade de Contabilidade. Não temos 4 anos para discutir cada ponto. A ideia aqui será de trazer um pensamento crítico para o administrador que precisa entender se a empresa está bem ou mal das pernas conforme sua contabilidade. Cada tipo de empresa requer uma margem líquida e ativos diferentes, verificar se faz sentido o quadro da empresa com suas necessidades é um dos objetivos do administrador ao aprender contabilidade.
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