A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DCF) se diferencia das demais demonstrações contábeis porque é elaborada sob a égide do regime de caixa. Por esse motivo a comparabilidade com as demais demonstrações, que são elaboradas pelo regime de competência, fica prejudicada, especialmente com a Demonstração do Resultado (DRE).
A não consideração da perspectiva financeira das decisões tomadas pelos gestores pode levar a empresa a situações em que ela mantenha recursos financeiros ociosos, o que representa um custo (custo de oportunidade do capital mantido ocioso), ou situações em que a empresa dependa de recursos emergenciais, o que também gera custos financeiros muitas vezes incompatíveis com o retorno gerado pelos negócios.
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A análise e acompanhamento das informações do fluxo de caixa permite ao gestor tomar ações presentes para que essas situações não ocorram no futuro e, consequentemente, não ocorram esses ônus desnecessários. Nesse sentido, pode-se observar um alto valor agregado para o gestor com esse serviço prestado pela contabilidade à sua empresa, pois ele fornece informações para que ele planeje suas ações considerando esse importante aspecto e evitando assim esses custos. Por fim, a análise e os modelos de relatórios não precisam (e não devem) ficar presos ao que é preconizado para fins de divulgação externa, mas sim explorar o potencial informativo da contabilidade sem os limites impostos pelas regras, de maneira a atender às necessidades específicas do gestor em cada circunstância.
O uso do Fluxo de Caixa na Gestão Financeira
Além de permitir que o gestor possa tomar decisões financeiras (captação e aplicação de recursos), a gestão do fluxo de caixa também pode auxiliá-lo na gestão operacional da empresa, basta que nos relatórios sejam identificadas as relações entre o caixa e as demais contas relevantes que estão envolvidas no fluxo financeiro, consequência do negócio.
Quando o gestor opta, por exemplo, por uma determinada política de compras, essa escolha afeta o caixa por meio do fluxo de caixa operacional de pagamento de fornecedores, e esse efeito pode ser observado na conta de estoques, por exemplo; quando ele adota determinada estratégia de cobrança, isso afeta o fluxo de caixa proveniente de contas a receber, e isso pode ser observado no volume de contas a receber; e assim por diante.
O foco desse aspecto na análise do fluxo de caixa permite ao gestor responder perguntas como: quanto do caixa gerado por minhas atividades eu tenho comprometido? quanto ainda posso comprometer? qual o efeito da decisão de investimento no meu fôlego financeiro?
Outro foco de análise que o gestor pode ter é o das relações do caixa com as contas das fontes de capital (passivos e patrimônio líquido). O acompanhamento dos elementos do fluxo de caixa e do volume dessas contas fornece ao gestor subsídios para avaliar alternativas e formas de captação de recursos junto a terceiros, possibilidades de novos aportes de capital por parte dos sócios ou ainda a disponibilidade de recursos para a distribuição de lucros aos sócios.
Subdivisões do fluxo de caixa
Diversos podem ser os modelos ou as formas de apresentação do fluxo de caixa, mas o formato mais convencional e talvez o que melhor expresse a dinâmica dos efeitos das principais decisões tomadas na organização em seu fluxo de caixa, seja aquele em que se classifica cada elemento do relatório em três grupos básicos: o fluxo das operações, o fluxo dos investimentos e o fluxo de financiamentos.
O mérito desse modelo talvez esteja em permitir ao usuário da informação perceber três grupos de decisões que afetam caixa de maneira distinta, com volumes e frequências distintas. Isso pode, indiretamente, auxiliá-lo inclusive na classificação de suas decisões, de maneira que fique mais claro para ele não só o tipo distinto de ação que está tomando, como também o seu efeito no seu "fôlego" financeiro.
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Existem três grupos de decisões que afetam o caixa e, consequentemente, o "fôlego financeiro" da empresa e cada um deles é descrito a seguir.
Decisões operacionais
As decisões operacionais são aquelas que, em uma perspectiva inicial, afetam as contas de clientes a receber, estoques, fornecedores e contas a pagar, ou seja, aquelas que afetam o capital de giro.
Em uma perspectiva mais analítica, essas decisões são as que o gestor toma no dia-a-dia do seu negócio e envolvem suas relações com clientes, fornecedores e o seu processo produtivo e o reflexo financeiro disso tudo encontra-se no caixa, mais precisamente, nos elementos operacionais do fluxo de caixa. Portanto, a análise do comportamento desses elementos no fluxo de caixa, concomitantemente ao comportamento dessas contas, dentro de cada período e à luz das decisões tomadas durante o mesmo período, permitem ao gestor conhecer os efeitos financeiros de suas ações, decisões, posturas e estratégias operacionais. O frequente acompanhamento desses elementos operacionais no fluxo de caixa, bem como do comportamento dessas contas, podem ajudar o gestor a rever as políticas, estratégias, decisões e ações que estejam comprometendo o seu fôlego financeiro, e com isso, fazer correções nas ações futuras, antes que situações mais complicadas possam surgir.
Os credores, no momento de análise da cessão (ou não) de crédito, vão sempre verificar a capacidade de a operação gerar fluxo de caixa suficiente para que o principal e os juros possam ser recuperados pela instituição credora.
As perguntas típicas que essa análise pode responder são: como otimizar a geração de caixa com minhas operações?; qual é o efeito financeiro de uma política mais agressiva de vendas?; qual é o efeito financeiro de uma determinada política de compras?; e assim por diante.
Veja a figura acima, o que você pode fazer para interferir no ciclo Operacional?
Decisões de investimento
As decisões de investimento são aquelas relacionadas com as contas de ativos fixos (instalações, equipamentos, veículos etc.) e, consequentemente, com as estratégias adotadas em relação à capacidade instalada a ser mantida, à modernização da estrutura, à inovação, enfim, nas decisões que envolvam efeitos no médio e no longo prazo.
Esta análise possibilita que gestor tenha mais conhecimentos para responder a perguntas como: quais têm sido os efeitos financeiros das estratégias de ampliação da capacidade, das estratégias de inovação tecnológica ou de ampliação de nossa área de atuação, qual o nível de comprometimento do fluxo de caixa de minhas operações com investimentos, com que tipo de investimentos etc.?
O gestor sempre tem a expectativa que o investimento em ativos fixos gera um efeito no lucro da empresa e, consequentemente no fluxo de caixa. Isso porque esse investimento, em modernização por exemplo, pode causar uma redução de custos de produção; ou um investimento em ampliação da capacidade, que permite à empresa o aumento das vendas e dos seus lucros. O que muitas o gestor não consegue visualizar é o momento desse efeito e, não muito raro, esses investimentos causam o comprometimento do fluxo de caixa da empresa no curto prazo. Nesse caso, não havendo "fôlego" nesse período, a empresa pode entrar em dificuldades financeiras.
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Decisões de financiamento
As decisões de financiamento são aquelas relacionadas às fontes de recursos tanto para as operações quanto para os investimentos e estão relacionadas com dois grupos fundamentais de contas no balanço: os passivos de financiamento (capitais de terceiros ou passivos onerosos) e com o patrimônio líquido (capital próprio).
Devemos deixar bem claro que quando falamos de passivos de financiamento, estamos nos referindo primordialmente aos passivos assumidos junto aos bancos (e se for o caso, assumidos por emissão de títulos) outras fontes alternativas de financiamento, como por exemplo as factorings. Alguns desses passivos são: empréstimos, financiamentos, contas-corrente garantidas, cheques especiais, cartões de crédito, desconto de duplicatas ou outros títulos de crédito, etc.
Essa análise ajuda o gestor a refletir a respeito de questões como: qual é o meu nível de comprometimento do meu fluxo financeiro operacional com terceiros? quanto do lucro posso levar pra casa? etc.
Nas escolhas entre fontes de capital existem diversos aspectos que o gestor deve levar em conta, por exemplo: quando da escolha pela opção de captação de recursos junto a terceiros (um financiamento, por exemplo) é muito comum que ele esteja fortemente preocupado com a taxa de juros que irá onerar seu resultado, porém muitas vezes ele não dá a devida atenção ao prazo da operação e, consequentemente, o valor da amortização que irá comprometer seu fluxo de caixa ao longo dos períodos futuros e isso pode levá-lo à uma situação de dificuldade financeira crítica.
Exercícios
1) (CESPE / CEBRASPE - 2022 - ANP - Regulador de Novas Atribuições II - Cargo 5) Uma empresa deseja mensurar a viabilidade econômica de um projeto de uma nova planta de produção. Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente.
> O projeto será considerado viável se o somatório dos fluxos de caixa futuros do projeto for suficiente para cobrir o investimento inicial.
a) Certo
b) Errado
2) (IF-MS - 2019 - IF-MS - Tecnólogo em Gestão Financeira) O Planejamento financeiro serve como um norteador das atividades da organização, com a intenção de atingir seus objetivos de curto e longo prazo. O planejamento financeiro envolve o orçamento de caixa e a projeção dos demonstrativos financeiros. Com qual objetivo o gestor financeiro elabora o orçamento de caixa?
A) Para se ter conhecimento das necessidades operacionais da empresa e providências de captação de recursos a longo prazo.
B) Para se ter conhecimento das necessidades financeiras da empresa e providências de captação de recursos de curto e longo prazo.
C) Para se ter conhecimento dos déficits de caixa e providências de captação de recursos a curto prazo.
D) Para que se possa utilizá-lo como base para o desenvolvimento das demonstrações financeiras.
E) Para determinar excessos de caixa para investimento á longo prazo.
3) (IF-MS - 2019 - IF-MS - Tecnólogo em Gestão Financeira) Em uma análise de viabilidade, consideramos os fluxos de caixa operacionais que serão gerados pelo projeto proposto. Por que são considerados os fluxos de caixa operacionais para a análise de viabilidade dos projetos de investimentos propostos?
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A) Porque mensuram as entradas de caixa geradas pelo projeto.
B) Porque são dados financeiros e, portanto, efetivos.
C) Porque são dados contábeis.
D) Porque demonstram o lucro adicional a ser obtido pela implementação da proposta.
E) Porque são dados relevantes.
4) (CS-UFG - 2018 - SANEAGO - GO - Analista de Saneanento - Contador) Determinada empresa comercial apresenta os seguintes indicadores: prazo médio de renovação de estoques: 80 dias; prazo médio de renovação de vendas: 90 dias; prazo médio de pagamento de compras: 100 dias. Com base nestes indicadores qual é, em dias, o ciclo operacional da empresa?
A) 100
B) 170
C) 180
D) 190
5) (CFC - 2015 - CFC - Bacharel em Ciências Contábeis - 1º Exame) Uma indústria compra matéria-prima a prazo. Após o recebimento da matéria prima, a indústria a armazena, em média, por 7 (sete) dias, antes de encaminhá- la para a área de produção, onde ficará 4 (quatro) dias em processo. Após a conclusão da manufatura, a indústria mantém o produto acabado em estoque por um tempo médio de 21 dias, antes de vendê-lo. As vendas são efetuadas com prazo médio de recebimento de 35 dias. O pagamento ao fornecedor se dá em 17 dias após a compra da matéria-prima.
Acerca da situação acima, o Ciclo Financeiro é de:
A) 17 dias.
B) 29 dias.
C) 50 dias
D) 56 dias.
6) (CETAP - 2011 - Prefeitura de Belém - PA - Assistente Administrativo) A informação fornecida na demonstração de fluxos de caixa, se utilizada com as divulgações e informações relacionadas nas outras demonstrações financeiras, ajudará os investidores, credores e outros a avaliar: I- a capacidade do negócio gerar fluxos de caixas líquidos; II- a capacidade de o empreendimento pagar dividendos e financiamentos; III- as razões das diferenças entre fluxo de caixa e resultado líquido. Está(ão) CORRETO(S):
A) apenas o item I.
B) apenas os itens I e II.
C) apenas os itens II e III.
D) apenas os itens I e III.
E) os itens I, II e III.
7) (FUNDATEC - 2023 - IF-SC - Contador) Em relação às movimentações verificadas em uma entidade do setor público durante determinado período do exercício de 2021, apresentadas abaixo, são movimentações que devem ser reconhecidas na Demonstração do Fluxo de Caixa como atividades de investimento:
I. Recebimentos de caixa de sinistros e outros benefícios da apólice e pagamentos em caixa de prêmios, anuidades, em transações com seguradora.
II. Recebimentos de caixa decorrentes de impostos, taxas, contribuições e multas.
III. Recebimentos de caixa resultantes da venda de ativo imobilizado, intangível e outros ativos de longo prazo.
IV. Amortização de empréstimos e financiamentos que foram contraídos.
Quais estão corretas?
A) Apenas I.
B) Apenas III.
C) Apenas I e II.
D) Apenas III e IV.
E) I, II, III e IV.
8) (IBADE - 2023 - Prefeitura de Rio Branco - AC - Contador) Julgue as sentenças abaixo como VERDADEIRAS ou FALSAS.
(__) A interpretação dos resultados da demonstração de fluxos de caixa são essenciais para a elaboração de políticas sociais e financeiras, o planejamento de investimentos e a gestão de riscos financeiros.
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(__) As atividades de financiamento envolvem empréstimos, captação de recursos e aquisição de ativos não circulantes.
(__) A Demonstração de Fluxos de Caixa é composta por três categorias principais: atividades gerenciais, atividades de assessoramento e atividades de planejamento.
A sequência CORRETA é:
A) V, F, V.
B) F, V, V.
C) V, V, V.
D) V, V, F.
E) V, F, F.
9) (FUNDATEC - 2023 - Prefeitura de Espumoso - RS - Contador) Com base na Norma de Contabilidade Aplicada ao Setor Público que disciplina a Demonstração dos Fluxos de Caixa, pode-se concluir que “a aquisição de ativos por meio da troca de ativos, por meio da assunção direta do respectivo passivo ou ainda por meio de arrendamento financeiro; e a conversão de dívida com terceiros em patrimônio líquido” são exemplos de:
A) Fluxos de caixa em base líquida.
B) Transações que não envolvem caixa ou equivalentes de caixa.
C) Fluxos de caixa das atividades operacionais.
D) Fluxos de caixa das atividades de financiamento.
E) Fluxos de caixa das atividades de investimentos.
10) (Avança SP - 2023 - Prefeitura de São Lourenço da Serra - SP - Tesoureiro) Na Demonstração dos Fluxos de Caixa do Setor Público, os valores cuja arrecadação seja proveniente da alienação de bens imóveis pertencentes à Administração Pública serão classificados como:
A) Fluxos das Atividades de Investimento.
B) Fluxos das Atividades de Capital.
C) Fluxos das Atividades Operacionais.
D) Fluxos das Atividades de Financiamento.
E) Fluxos das Atividades Extraordinárias.
Resolução
1) B
2) C
3) B
4) B
5) C
6) E
7) B
8) E
9) B
10) A
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