O que é capital de giro?
Conforme Brigham (1999), capital de giro é investimento da empresa em ativos de curto prazo. Segundo Assaf Neto (2005), o conceito de capital de giro ou capital circulante está associado aos recursos que circulam ou giram na empresa em determinado período de tempo. Ou seja, é uma parcela de capital da empresa aplicada em seu ciclo operacional. Denominamos capital de giro a parcela dos recursos próprios de empresa que encontramos disponíveis para aplicações.
O capital de giro tem participação relevante no desempenho operacional das empresas, cobrindo geralmente mais da metade de seus ativos totais investidos. Alguns fatores como redução de vendas, crescimento da inadimplência, aumento das despesas financeiras e aumento de custos serão tratados com o fim de demonstrar a importância de uma boa administração do capital de giro para a empresa.
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O capital de giro pode auxiliar os pequenos empreendimentos por meio de uma estratégia econômica sólida e eficaz, para que a empresa tenha recursos para aplicar em outros empreendimentos ou até mesmo na empresa. É bom lembrar que, quando uma empresa ou organização entra em operação, ou seja, em funcionamento, o administrador financeiro volta toda a sua atenção ao capital de giro, devido a sua importância, porque é por falta de controle nas entradas e saídas de caixa na empresa que a maioria das empresas vem morrer no mercado, tão globalizado e competitivo.
Pela necessidade de controlar a todo tempo esse fator, deixa-se claro que capital de giro não é igual a rentabilidade, porque a rentabilidade da empresa pode esperar por uma recuperação de lucros. Entretanto, o capital de giro não pode esperar. Ele é prioritário, ou seja, sem lucro a empresa fica estagnada ou encolhe, mas, sem capital de giro, ela desaparece. Isso porque o capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes a todo tipo de atividade empresarial.
Por esse motivo, a empresa deveria manter uma reserva financeira para enfrentar os eventuais problemas que podem surgir. A empresa tem de manter uma maior reserva financeira possível para ser alocada à manutenção do capital de giro; com isso, menor serão as possibilidades de crises financeiras. Logo, a empresa se preocupa com a quantidade de caixa ou equivalente de caixa que ela possui.
Caixa e equivalentes de caixa
Os equivalentes de caixa são mantidos com a finalidade de atender a compromissos de caixa de curto prazo e, não, para investimento ou outros propósitos. Para que um investimento seja qualificado como equivalente de caixa, ele precisa ter conversibilidade imediata em montante conhecido de caixa e estar sujeito a um insignificante risco de mudança de valor. Portanto, um investimento normalmente qualifica-se como equivalente de caixa somente quando tem vencimento de curto prazo, por exemplo, três meses ou menos, a contar da data da aquisição.
Os investimentos em instrumentos patrimoniais (de patrimônio líquido) não estão contemplados no conceito de equivalentes de caixa, a menos que eles sejam, substancialmente, equivalentes de caixa, como, por exemplo, no caso de ações preferenciais resgatáveis que tenham prazo definido de resgate e cujo prazo atenda à definição de curto prazo.
Empréstimos bancários são geralmente considerados como atividades de financiamento. Entretanto, saldos bancários a descoberto, decorrentes de empréstimos obtidos por meio de instrumentos como cheques especiais ou contas correntes garantidas que são liquidados em curto lapso temporal compõem parte integral da gestão de caixa da entidade. Nessas circunstâncias, saldos bancários a descoberto são incluídos como componente de caixa e equivalentes de caixa. Uma característica desses arranjos oferecidos pelos bancos é que frequentemente os saldos flutuam de devedor para credor.
Os fluxos de caixa excluem movimentos entre itens que constituem caixa ou equivalentes de caixa porque esses componentes são parte da gestão de caixa da entidade e, não, parte de suas atividades operacionais, de investimento e de financiamento. A gestão de caixa inclui o investimento do excesso de caixa em equivalentes de caixa.
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Como diminuir a necessidade de Capital de Giro
Além da manutenção da reserva financeira, as seguintes medidas permitirão a eliminação ou prevenção da insuficiência de capital de giro:
▼ Controlar a inadimplência: conforme Assaf Neto (1997), a inadimplência dos clientes de uma empresa pode decorrer do quadro econômico geral do país ou de fatores no âmbito da própria empresa. No primeiro caso, a contração geral da atividade econômica tende a aumentar a inadimplência. Nesta situação, a empresa tem pouco controle sobre o problema. Quando a inadimplência é decorrente de práticas de crédito inadequadas, estabelecidas pela própria empresa, a solução é menos difícil. Basicamente, será preciso dar mais atenção à qualidade das vendas do que a seu volume.
▼ Não financiar o capital de giro a qualquer custo: segundo Santos (2001), na tentativa de suprir a insuficiência de capital de giro, muitas empresas utilizam empréstimos de custo elevado. Como regra, qualquer dinheiro captado a um custo maior do que 1,17% ao mês (ou 15% ao ano), em termos reais, é compatível com a rentabilidade normal da empresa, que é de 15% ao ano, também em termos reais. O financiamento de capital de giro a uma taxa real maior do que 1,17% ao mês pode resolver o problema imediato de caixa da empresa, mas cria outra dificuldade, a liquidação da dívida.
▼ Alongar o perfil do endividamento: Santos (2001) constata que, quando a empresa consegue negociar um prazo maior para o pagamento de suas dívidas, ela adia as saídas de caixa correspondentes e, portanto, melhora sua situação de capital de giro. Embora a ajuda seja provisória, permitirá que a empresa possa esperar por uma melhora em seu quadro econômico. Também, nesse caso, é importante dar atenção especial para o custo do alongamento de prazo. Ele precisa ser suportado pela rentabilidade da empresa.
▼ Reduzir custos: Brigham (1999) alerta que a implantação de um programa de redução de custos tem efeito positivo sobre o capital de giro da empresa, desde que não traga restrições a suas vendas ou à execução de suas operações. Uma vez que a empresa com problema de capital de giro também estará com sua capacidade de investimento comprometida, a redução de custos por meio de processos como modernização, automoção ou informatização não será possível. Diante de uma crise de capital de giro, o programa de redução de custos tem natureza compulsória e seu grande desafio é identificar os itens de gastos que possam ser cortados sem grandes prejuízos para as atividades da empresa.
▼ Encurtar o ciclo operacional: para Gitman (2001), quando a empresa encurta seu ciclo operacional, suas necessidades de capital de giro são reduzidas.
Calculando o Capital de Giro
O valor de Capital de Giro é calculado a partir da fórmula (também poderia ser chamado de Capital Circulante Líquido):
Ativo circulante – Passivo Circulante
(Contas a Receber + Estoque) – (Contas a Pagar)
Otimizando o Capital de Giro
A necessidade de capital de giro ocorre quando o seu Ciclo Financeira é positivo (o quanto a empresa fica descoberta):
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Ciclo Financeiro (dias) = Pagamento pelo consumidor (dias) + tempo de retenção do produto (dias) + Demora na entrega pelo fornecedor (dias) + produção do produto (dias) - pagamento ao fornecedor (dias).
Podemos utilizar a média de valores a fim de poder calcular o Ciclo Financeiro:
- Calcule o prazo médio das contas a pagar: se 50% é à vista e 50% em 30 dias, a média é de 15 dias. Lembrando que podem haver outros prazos aqui;
- Calcule o prazo médio de recebimento dos clientes: se uma parte paga em 30 dias e outra em 60, (30 + 60 = 90), a média de recebimento é de 45 dias.
Ou seja, você tem 45 dias para receber dos seus clientes e 15 dias para pagar os fornecedores. O resultado é que há (45 – 15) 30 dias da operação a serem bancados pelo capital de giro.
Isso significa que precisamos de 100% do dinheiro de "Contas a pagar" parado na conta por 30 dias? Não é bem assim, por que pode ser que você tenha que pagar 2 estoques, então teria que ter 200%, ou pode ser que você receba do cliente anterior no momento que iria pagar o estoque do cliente seguinte, fazendo com que não precise do Capital do Giro.
Para facilitar as contas, usamos o valor mensal gasto com o fornecedor. Se precisamos de 10 mil reais mensais, logo, precisamos de um capital de giro de 10 mil reais já que o Ciclo Financeiro é de 30 dias (1 mês).
Exemplo 1
O capital de giro próprio da empresa comercial é de 4 milhões de reais. O ciclo financeiro da empresa como um todo é de 15 dias e o giro nos preços de compra é de R$ 8.590.909. Assim, para trabalhar com fornecedores e clientes nas mesmas condições, a empresa precisa de 4.295.455 reais de capital de giro (8.590.909 reais vezes 15 dias: 30 dias). Portanto, a necessidade de financiamento para reabastecer o capital de giro é de 295.455 reais (4.295.455 - 4.000.000).
Exemplo 2
Vamos pegar o exemplo anterior. Digamos que a empresa conseguiu aumentar em 3 dias o diferimento do pagamento dos contratos com fornecedores e no mesmo valor reduzir o prazo de pagamento das mercadorias entregues aos clientes. Além disso, eliminou a perda de tempo de entrega - 5 dias. Então o ciclo financeiro da empresa não será mais de 15 dias, mas de apenas 4 dias. Consequentemente, a quantidade de capital de giro necessária para as atividades operacionais da empresa será de 1.145.455 reais (8.590.909 reais vezes 4 dias: 30 dias). Isso eliminará a necessidade de recursos de crédito e, além disso, 2.854.545 reais (4.000.000 - 1.145.455) podem ser investidos.
Calculando o Ciclo Financeiro de operações complexas
Calcular o Ciclo Financeiro quando há apenas 1 produto e 1 fornecedor é fácil, mas imagina fazer parte de uma corporação com diversos produtos? Neste caso criamos uma tabela com cada produto.
Nome | Tempo de pagamento fornecedor | Tempo de pagamento consumidor | Tempo de entrega | Tempo armazenado | Ciclo Financeiro |
---|---|---|---|---|---|
Produto 1 | 30 | 35 | 5 | 21 | 31 |
Produto 2 | 45 | 35 | 0 | 14 | 4 |
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Nome | Valores comercializados por mês | Ciclo Financeiro |
---|---|---|
Produto 1 | R$ 10000 | 31 |
Produto 2 | R$ 20000 | 4 |
Neste caso, se você for conservador, você poderia somar a quantidade de Giro de Capital necessário para cada produto, para calcular o Giro de Capital total.
Giro necessário para o Produto 1: R$ 10000*(31/30) = R$ 10333.33
Giro necessário para o Produto 2: R$ 20000*(4/30) = R$ 2666.66
Total: R$ 12999.99
Repare que você pode acabar deixando muito dinheiro parado, afinal, o dinheiro que está parado para o Produto 1 pode muito bem ser usado para pagar o Produto 2. Logo, muitos discutem se pode haver uma diminuição do capital de Giro conforme mais produtos são trabalhados.
Exercícios
2) (FUNDATEC - 2018 - Prefeitura de Santa Rosa - RS - Auditor Fiscal) Para responder a esta questão, considere os valores constantes na tabela abaixo.
O Capital Circulante Líquido é igual a:
A) R$ 500,00.
B) R$ 3.000,00.
C) R$ 3.500,00.
D) R$ 4.500,00.
E) R$ 5.500,00.
3) (IBADE - 2018 - Câmara de Vilhena - RO - Analista Financeiro - Administração) Na administração do capital de giro inclui-se os ativos e passivos circulantes. É considerado um passivo circulante as(os):
A) duplicatas a pagar.
B) títulos negociáveis.
C) estoques.
D) duplicatas a receber.
E) aplicações financeiras.
4) (Quadrix - 2018 - CREF - 13ª Região (BA-SE) - Assistente Administrativo) No que diz respeito à administração financeira, julgue o seguinte item. Suponha‐se que uma empresa possua ativo não circulante de R$ 230 milhões, passivo não circulante de R$ 170 milhões e patrimônio líquido de R$ 150 milhões. Nesse caso, o capital de giro da empresa é de R$ 90 milhões.
A) Certo
B) Errado
5) (VUNESP - 2019 - MPE-SP - Analista Técnico Científico - Contador) Quanto às decisões referentes ao planejamento e gestão do capital de giro, é correto afirmar:
A) decisões de capital de giro estão relacionadas ao financiamento do ciclo operacional de uma entidade.
B) não são relevantes comparativamente às decisões a respeito de compra de máquinas e equipamentos.
C) não envolvem o aspecto de prazos de recebimento dos clientes.
D) consideradas estáticas todas as outras variáveis, a duração do ciclo operacional não tem relação com o resultado da entidade e com o capital de giro necessário.
E) consideradas estáticas todas as outras variáveis, quanto maior a duração do ciclo operacional, menor o volume de capital de giro necessário.
6) (CEPS-UFPA - 2023 - UFPA - Técnico em Contabilidade) Determinado ente público, no ano de 2022, arrecadou R$ 100.000,00 em impostos e adquiriu um veículo à vista por R$ 45.000,00 para utilizar nas suas atividades operacionais. Realizou, ainda, a contratação de operação de Crédito no valor de R$ 20.000,00 e efetivou a liquidação da folha de Salários no valor de R$ 60.000,00. Esses eventos foram previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA). Considerando exclusivamente esses eventos, assinale a alternativa correta sobre a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) aplicada ao setor público, conforme orientações contidas no MCASP (2021).
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A) o fluxo de caixa líquido das atividades de investimento é de R$ 20.000,00.
B) a geração líquida de caixa do período foi de R$ 15.000,00.
C) o fluxo de caixa líquido das atividades operacionais é de R$ 100.000,00.
D) a geração líquida de caixa do período foi de (R$ 25.000,00).
E) o fluxo de caixa líquido das atividades de financiamento (R$ 25.000,00).
Resolução
1) E
2) B
3) A
4) A
5) A
6) B
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